A Idade Média foi um período em que a música desempenhou um papel fundamental na formação dos rituais, das políticas e da vida quotidiana.
Entre os instrumentos de sopro, as trombetas destacam-se pelo seu impacto acústico e pela sua presença em diversos ambientes, tendo origem na Idade Média.
Este artigo centra-se nos principais tipos e modelos medievais de trombetas e nos contextos específicos em que eram utilizadas.

Tipos de trombetas
Na Idade Média, as trombetas eram classificadas principalmente em dois grupos:
Trompetes com sistema de válvulas
Representaram uma evolução das trombetas tradicionais, permitindo uma gama mais ampla de notas. No entanto, não foram muito utilizadas na Idade Média, dado que as primeiras formas de trombetas valvuladas estavam apenas a começar a desenvolver-se neste período, e só dariam origem a instrumentos mais complexos em períodos posteriores. O seu uso tornou-se mais difundido durante os períodos Renascentista e Barroco.
Isto pode incluir:
Trompete de corrediça (ou saca-botas): Embora mais comum no Renascimento, as suas origens remontam à Idade Média. Possuía uma corrediça deslizante que permitia alterar o comprimento do tubo e, por conseguinte, o tom.
Trombetas naturais
A Idade Média caracterizou-se pelo uso de trombetas naturais, sendo este o tipo mais comum e básico.
Caracterizavam-se por um tubo reto, um bocal e uma campânula. Não possuíam mecanismos de mudança de tom, limitando-se a sons na série harmónica natural, daí o seu nome.
Entre estes encontramos, por exemplo:
-
Cornu: Instrumento de sopro da Roma Antiga, também utilizado na Idade Média, embora a sua utilização não fosse tão extensa como na época romana.
Era tocado com um bocal em forma de copo e tinha um formato característico, muitas vezes curvo. - Buccina (ou Bucina): Semelhante ao cornu, mas mais estreito e cilíndrico. Era tocado por um bucinador.
- Añafil: Uma trombeta reta e alongada de origem mourisca, semelhante à tuba romana. Encontrada na iconografia medieval, frequentemente associada a cenas de batalha e estandartes.
- La Buisine: Uma trombeta longa e reta, utilizada principalmente em contextos militares e cerimoniais. O seu design permitia produzir sons potentes e penetrantes.
- Clarim: Uma versão mais curta e aguda do buisine, utilizada para sinais rápidos e fanfarras. Comum em procissões e eventos da corte.
- O Olifante: Instrumento de sopro esculpido em marfim associado à nobreza e à caça. Famoso pela sua menção em "A Canção de Rolando", onde o herói usa o seu olifante para invocar ajuda em batalha.
Fora desta classificação, podemos ainda referir a existência de um outro instrumento, cujo nome, comparado com o seu mecanismo, o torna um caso curioso:
- A trombeta marítima: instrumento de cordas triangular ou trapezoidal que, embora chamado "trombeta", não era um instrumento de sopro. Foi popular nos séculos XV e XVI.

Significado cultural e simbólico, usos e funções
As trombetas, na iconografia medieval, tinham importância simbólica em vários aspetos:
- Poder e autoridade. Associados à realeza e à nobreza, representavam o poder terreno e divino.
- Arte e literatura . Eram frequentemente mencionados em manuscritos iluminados e contos épicos, simbolizando o heroísmo e a transcendência.
Tinham também múltiplas aplicações:
- Militar: Transmitir ordens, dar sinais de ataque, recuar, coordenar e elevar a moral no campo de batalha.
- Religioso: Nas cerimónias e procissões. Para anunciar a chegada de figuras importantes, iniciar eventos e marcar momentos-chave em rituais religiosos, onde o seu som estava ligado ao sagrado, sendo utilizado para chamar à oração ou marcar festividades.
-
Civis: Em eventos públicos, anúncios e celebrações.
Nas cidades medievais, os trompetistas municipais anunciavam notícias, recolher obrigatório e outras informações relevantes.
O estudo das trombetas medievais permite-nos compreender melhor a relação entre a música, a estrutura social e o simbolismo na Europa contemporânea. Estes instrumentos não eram meros objetos sonoros, mas antes reflexos da ordem hierárquica, dos valores coletivos e da imaginação artística medieval. A sua persistência na memória cultural demonstra o poder duradouro das suas formas e funções.
Se gosta de arte medieval, convido-o a visitar a nossa Loja Medieval e a descobrir tudo o que temos para lhe oferecer.








