Durante mais de cinco séculos, o Império Romano moldou a arte da guerra no Ocidente.
Um dos elementos mais emblemáticos do seu equipamento militar era o capacete, uma peça essencial de proteção que expressava também hierarquia, pertença e evolução tecnológica.
Entre o século I a.C. e o século V d.C., os capacetes romanos evoluíram de modelos simples herdados do mundo itálico e celta para elaboradas criações militares adaptadas à expansão e defesa do Império.

De Montefortino a Coolus: os primórdios
Os primeiros capacetes romanos usados durante o período republicano foram modelos de bronze como o Montefortino, de formato cónico, com um botão superior e protetores de bochecha simples. O seu design derivou de modelos celtas do norte de Itália e ainda era comum durante as campanhas de Júlio César.
No século I a.C., surgiu o tipo Coolus, também feito em bronze, mas com forma hemisférica, proteção reta do pescoço e bochechas mais articuladas. Este design, de origem gaulesa, era mais confortável, durável e fácil de produzir, o que favoreceu a sua utilização entre as tropas profissionais de Augusto.
Restos de ambos os modelos podem ser vistos no Museu Britânico ou no Musée Saint-Raymond em Toulouse, refletindo a sua presença em campanhas na Gália e na Hispânia.

O apogeu: o capacete imperial gaulês
A partir do século I d.C., o exército romano adotou o chamado capacete imperial gaulês, uma versão de ferro mais avançada e durável. Com viseira frontal, protetores de orelhas moldados, bochechas articuladas e uma nuca mais larga e curva, oferecia uma grande defesa contra projéteis e golpes.
Muitos exemplares apresentam reforços em forma de cruz ou rebites decorativos, que não só aumentam a sua resistência como também lhes conferem um ar marcial e simbólico.
Este tipo tornou-se o padrão das legiões romanas durante os séculos I e II.
Vários modelos destes foram encontrados em campos militares como Vindonissa (Suíça), Carnuntum (Áustria) ou Colonia Agrippina (Alemanha) e estão hoje preservados em museus como o RömerMuseum em Xanten ou o Römisch-Germanisches Museum em Colónia.

O termo "cap" ( crista ou protuberância ) nos capacetes romanos refere-se a uma parte saliente Localizado na parte superior do capacete, era geralmente longitudinal e podia ser feito de diversos materiais, como metal ou couro, e servia para proteger o topo da cabeça. Em alguns casos, também podia ser um ornamento, especialmente no final do período romano, quando os capacetes com crista eram um elemento de distinção e orgulho para os soldados.
Variantes regionais e auxiliares
As tropas auxiliares, compostas por soldados não romanos, usavam capacetes que variavam consoante a região. Nas províncias orientais, por exemplo, foram concebidos modelos mais reforçados, influenciados pelos partos e dácios, com armações mais altas e viseiras angulares.
Um caso notável é o capacete de Deurne (Holanda), ricamente decorado com inscrições mágicas e metáforas astrais, provavelmente pertencente a um oficial ou cavaleiro.
De salientar também o capacete Berkasovo (Sérvia), com placas de prata e um desenho cerimonial.

Transformação tardia
Com as reformas militares do século III e o aumento das ameaças nas fronteiras, os designs dos capacetes foram simplificados. Mais tarde, surgiram os capacetes itálicos, mais fáceis de produzir e mais padronizados.
Embora menos ornamentados, ofereciam uma boa proteção e estavam adaptados ao novo, maior e mais móvel exército.
Alguns modelos apresentavam reforços frontais ou protetores faciais. O objetivo já não era a elegância, mas sim a eficiência logística. Este tipo de capacete acompanhou as legiões nos últimos séculos do Império, quando as guerras eram constantes e os recursos escassos.

Capacetes cerimoniais e de cavalaria
Juntamente com os capacetes de combate, o exército romano desenvolveu modelos decorativos para uso cerimonial, especialmente entre a cavalaria.
Famosos são os capacetes de cavalaria de desfile, muitas vezes com máscaras faciais que cobriam todo o rosto, retratando rostos idealizados e serenos.
Exemplos extraordinários são os que se encontram em Ribchester, Newstead e Crosby Garrett (Reino Unido), todos de grande qualidade artística. Feitos de bronze ou ferro e decorados com prata ou dourado, eram usados em desfiles ou competições militares simbólicas ( hippika gymnasia ).
Estes capacetes, hoje em exposição no Museu Britânico e no Museu Nacional da Escócia, demonstram como este elemento funcionava também como símbolo de estatuto, habilidade e posição.

Legado de ferro e autoridade
O capacete romano não era apenas um dispositivo de proteção física. Era um símbolo de disciplina, poder e pertença a uma máquina militar que dominava três continentes. A sua evolução revela tanto a história do equipamento como a transformação do próprio Império: da expansão triunfante aos esforços defensivos.
Hoje, estes capacetes continuam a fascinar historiadores, museus e entusiastas da antiguidade. Através deles, podemos ver como os soldados romanos lutavam, mas também como pensavam, se organizavam e se projetavam no mundo. Cada rebite testemunha um império forjado em ferro, estratégia e visão política.








