Nas florestas enevoadas da antiga Europa, entre carvalhos antigos e pedras sagradas, viviam os druidas, guardiões do conhecimento celta.
Não eram apenas sacerdotes, mas também juízes, curandeiros, poetas e conselheiros.
A sua influência espiritual, jurídica e científica estendeu-se a toda a sociedade celta.
Quem eram os druidas?
Os druidas ocupavam um lugar central na sociedade celta, respeitados até pelos guerreiros que paravam as suas lutas diante deles.
Embora não tenham deixado textos escritos, autores como Júlio César já descreviam o seu papel fundamental.
A sua formação podia durar até vinte anos, memorizando mitos, leis, hinos e observações astronómicas, transmitindo uma visão do mundo ligada à natureza e ao espiritual.

Os Druidas: intermediários entre mundos
Na mitologia celta, os druidas eram as pontes entre os humanos e o divino.
Comunicavam com o Outro Mundo, uma dimensão paralela povoada por deuses como Cernunnos, Brigid, Lugh ou Morrigan, e também por heróis míticos e espíritos de antepassados.
Eram indispensáveis na celebração dos solstícios, equinócios e festivais como o Samhain, Beltane, Imbolc e Lughnasadh. Estes momentos marcavam pontos-chave no calendário celta, onde as fronteiras entre o visível e o invisível se esbateram.
Nestas datas, os druidas celebravam cerimónias destinadas a invocar a fertilidade, a proteção, a sabedoria ou a prosperidade.
Ferramentas Sagradas do Druida
O punhal druídico, feito de ouro ou bronze, era um instrumento cerimonial, não uma arma.
Plínio, o Velho, conta como usavam uma foice de ouro para cortar o visco durante a lua cheia.
As adagas representavam a ligação com a natureza e a autoridade espiritual, decoradas com símbolos como triquetra e nós celtas.
Usavam também varinhas de freixo ou carvalho, caldeirões rituais, pedras de oráculo e taças cerimoniais, tudo com uma carga simbólica muito poderosa.

Os Druidas e a morte como transformação
Para os celtas, a morte era um passo em direção a outro plano de existência, e não um fim. Acreditavam na reencarnação e na continuidade da alma.
Os druidas guiavam a alma em rituais funerários que incluíam cremações, enterramentos em túmulos ou câmaras megalíticas, ou até mesmo em lagos ou rios sagrados.
O falecido era acompanhado de objetos pessoais e armas, principalmente se fosse um guerreiro.
Durante estas cerimónias, os druidas entoavam cânticos, recitavam orações e realizavam ritos de purificação.
Os banquetes eram frequentemente realizados para homenagear os falecidos, fortalecendo o vínculo entre os vivos e os antepassados.
Santuários naturais dos druidas
Ao contrário de outras religiões, os celtas não construíram templos.
Para os druidas, a natureza era sagrada.
O carvalho, árvore sagrada por excelência, era considerado o centro do universo celta. Os rituais mais importantes eram realizados sob os seus ramos.
Lugares como a Floresta de Carnutes, na Gália, círculos de pedra como Stonehenge (embora anteriores aos celtas) e os dólmens espalhados pela Europa Ocidental eram centros de poder espiritual onde o tempo e o espaço pareciam dissolver-se.

O que aconteceu aos druidas na Idade Média?
Durante a Idade Média, entre os séculos V e X, a figura do druida desapareceu como classe social e religiosa ativa devido à expansão do cristianismo e, embora permaneçam nas histórias medievais como personagens lendárias, deixaram de ter um papel real na sociedade.
O imperador romano Cláudio proibiu as suas práticas no século I d.C., considerando-as uma ameaça, mas, apesar da perseguição, o seu legado sobreviveu parcialmente, incorporado no cristianismo.
No século XIX, o Romantismo fez renascer a sua figura, dando origem ao Neodruidismo, que faz renascer os seus rituais ancestrais em harmonia com a terra e os ciclos naturais.
Os Druidas: Guardiões de um Mundo Invisível
Os druidas representavam uma filosofia de vida profundamente ligada à natureza e aos ciclos eternos.
Para eles, o punhal era um símbolo de cura e autoridade espiritual, e a morte, uma transformação.
Através deles, o mundo celta falava com a voz da floresta, lembrando-nos hoje a importância de manter esta ligação ancestral com a terra.