Poucas armas de fogo deixaram uma marca tão profunda na história moderna como a Kalashnikov. Não só pela sua presença em conflitos armados em todos os continentes, mas também pelo seu design técnico, pela sua origem ligada às reais necessidades do combate moderno e pela sua evolução até aos dias de hoje.
Conhecido principalmente pelo seu primeiro modelo, o AK-47, este fuzil de assalto representa um marco na engenharia militar soviética, resultado de um período de reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial.

Origens técnicas e inspiração de modelos anteriores
O nascimento do Kalashnikov ocorreu na União Soviética, no final da década de 1940.
Foi concebido pelo então sargento Mikhail Timofeyevich Kalashnikov, que, após ter sido ferido em combate em 1941, concebeu a ideia de uma arma simples, eficaz e fiável.
A sua proposta foi selecionada após vários testes, culminando no modelo oficial aprovado em 1947: o Avtomat Kalashnikova de 1947, ou AK-47.
Embora o seu design seja original, baseia-se em vários precedentes técnicos. O conceito de espingarda de assalto foi explorado pela Alemanha com o Sturmgewehr 44, cujo equilíbrio de potência, cadência de tiro e facilidade de transporte teve uma influência decisiva. Foram também observados elementos mecânicos da espingarda semiautomática americana M1 Garand e do soviético SVT-40.
O resultado foi uma síntese que deu prioridade à durabilidade e à facilidade de utilização em detrimento da precisão de longo alcance.
Conceção, operação e produção
O AK-47 opera com um sistema de recarga a gás e um ferrolho rotativo. A sua munição, o cartucho intermédio de 7,62 × 39 mm, foi concebida para combinar a capacidade de penetração com o controlo de recuo.
Possui um seletor de tiro para disparo automático ou semiautomático e um carregador com capacidade para 30 tiros.
O fabrico inicial era feito por maquinação, mas logo foram introduzidas peças estampadas para facilitar uma produção mais rápida e barata.
O modelo modernizado, AKM, surgiu em 1959 com melhorias estruturais e redução de peso.
Em 1974, a introdução do AK-74, com câmara para o cartucho 5,45×39 mm, marcou uma evolução técnica significativa no programa soviético de espingardas.

Difusão internacional e relevância geopolítica
Desde a sua adopção, o Kalashnikov espalhou-se rapidamente por todo o bloco do Pacto de Varsóvia, Ásia, África e América Latina. O seu baixo custo, facilidade de manutenção e extrema durabilidade em condições adversas tornaram-no a arma preferida dos exércitos regulares, dos movimentos insurgentes e das milícias de diversas ideologias.
As estimativas conservadoras colocam a produção total em mais de 100 milhões de unidades, incluindo variantes oficiais e cópias ilegais.
O simbolismo da Kalashnikov transcende a técnica. A sua silhueta surge em brasões nacionais, como o de Moçambique, e foi adotada como emblema por vários movimentos.
Mikhail Kalashnikov, por sua vez, nunca recebeu royalties pela sua criação, embora tenha recebido várias condecorações do Estado Soviético.
Uma arma diferente
O Kalashnikov não mudou apenas a forma como a guerra era travada: definiu toda uma era de conflito armado.
O seu desenho técnico reflecte uma lógica militar implacável, a sua evolução acompanha as transformações do século XX e o seu legado, embora controverso, é indiscutível.
De campos de batalha congelados a selvas húmidas, este fuzil continua a ser, até hoje, o símbolo de durabilidade, eficácia e guerra moderna.








