A arte do fogo não foi apenas um avanço tecnológico; foi o momento em que a humanidade começou a dominar a natureza em vez de apenas se adaptar a ela.
Desde os tempos pré-históricos que o fogo serve como fonte de calor, luz, proteção e transformação de alimentos e materiais.
Este artigo traça a história de como os nossos antepassados aprenderam a fazer fogo, desde os primeiros métodos rudimentares até ao desenvolvimento do sílex clássico utilizado durante séculos na Europa.

A descoberta do fogo
Embora o fogo sempre tenha existido na natureza (através de raios ou erupções vulcânicas), a domesticação humana do fogo ocorreu entre há 400 mil e 1 milhão de anos, de acordo com os achados arqueológicos em África, Israel e Europa. No sítio arqueológico de Gesher Benot Ya'aqov, em Israel, foram encontrados restos carbonizados e ferramentas de pedra que demonstram a sua utilização controlada pelo Homo erectus .
É fundamental realçar que no início, antes mesmo de se saber como criá-lo, não era ignorado: nas primeiras abordagens, o fogo era preservado depois de o encontrar na natureza, sem ainda se saber como o reproduzir.
Os primeiros métodos de fazer fogo: fricção e percussão
Com o domínio do uso do fogo natural, surgiu a necessidade de o gerar artificialmente. Este avanço crucial ocorreu durante a Pré-História, especialmente no Paleolítico Médio e Superior, com duas técnicas principais: a fricção (com madeira) e a percussão (com pedras).
Fogo por fricção: para quem é seco, esforço e paciência

O método mais antigo para fazer fogo de forma independente era esfregar dois pedaços de madeira seca.
Esta técnica, conhecida e utilizada pelas culturas de todo o mundo, consistia em gerar calor esfregando um bastão cilíndrico contra uma base de madeira macia com uma pequena cavidade, rodando-o entre as mãos verticalmente sobre a base, até produzir uma brasa capaz de inflamar fibras vegetais secas (pavio).
Estas técnicas exigiam habilidade, condições climatéricas secas e bons materiais.
Embora fisicamente exigente, representou um grande salto tecnológico.
Fogo por percussão: a primeira utilização de pedras para fazer faíscas

Quase paralelamente à utilização do atrito, desenvolveu-se o método de percussão, baseado na colisão de rochas.
Este procedimento consistia em bater uma pedra dura e quebradiça, como o sílex (uma pedra muito dura e com fraturas agudas, muito utilizada na pré-história também para fazer ferramentas), contra outro material que gerasse faíscas.
Antigamente, o sílex era batido contra a pirita de ferro, um mineral capaz de emitir faíscas quando partido.
Este sistema baseia-se num princípio simples: o impacto quebra pequenas partículas metálicas, que aquecem por fricção e oxidação, gerando faíscas incandescentes. Estas faíscas são depois direcionadas para um ninho de material inflamável seco, como o fungo inflamável (Fomes fomentarius) ou fibras de casca de árvore, para iniciar a combustão.
A partir do Neolítico, e especialmente na Idade do Ferro, o sílex começou a ser cunhado contra o aço ao carbono, que substituiu a pirite devido à sua maior eficiência.

Do uso primitivo ao sílex clássico
Com o advento da metalurgia, a técnica de percussão evoluiu para o sistema clássico de sílex, que foi amplamente utilizado desde a antiguidade até ao século XIX.
Consistia numa pedra de sílex afiada e numa peça curva de aço carbono, tradicionalmente chamada de "chispas" ou "eslabones" em Espanha. Quando os dois eram habilmente acionados, era produzida uma faísca, inflamando o material inflamável e, com um pouco de ar, transformando-se em chama.
Este método era fiável, reutilizável e não dependia de combustíveis externos, o que o tornava uma opção muito popular em zonas rurais, acampamentos, exércitos e navios.
Em muitas aldeias europeias, estes kits de iluminação ainda são preservados como parte do património cultural.
Além disso, as suas primeiras versões deram lugar às pederneiras de sobrevivência: ferramentas portáteis e práticas, com maior durabilidade e desempenho do que outras ferramentas concebidas para o mesmo propósito: acender fogo. Em muitos casos, foram adaptadas para desempenhar outras funções, como a incorporação de apitos. Isto torna-as ideais, especialmente para quem pratica atividades ao ar livre regularmente.

O Fogo a iluminar o caminho do Homem
Desde as primeiras tentativas de esfregar ramos ou pedras secas até ao uso engenhoso do sílex clássico, a história do fogo é a história do engenho humano face às limitações naturais. Cada técnica desenvolvida — por fricção ou percussão — marcava um avanço técnico fundamental que permitia a cozedura, a proteção, a iluminação e a transformação da matéria.
O fogo não só alterou o nosso modo de vida como também abriu caminho à civilização.








